segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Êxtase

Silhuetas
Em paredes caiadas.

Brincadeira de laço
Que traço,
Que faço.

Nos buscamos...

É um amor sem compasso
Enchendo todo espaço.

Murmúrios de carícias.

Chega o cansaço,
Adormecemos em abraços.

Façanhas da Paixão

Faço-me cleptomaníaco
Ao roubar as estrelas.
Agarro-me a calda de um cometa
E vou a saturno buscar um anel para lhe dar.

Sou cria do Big Bem,
Sou descendente de Adão.

Por você,
Afano todas as galáxias.

Por você,
Castro-me do senso de lógica,
Submeto-me ao jugo da incoerência.
Sou "Deus".

Ciumeira

Incrusta-se
Em sentimentos fel.

Estrepes,
Ásperos,
Pontiagudos.
Furam os meus dedos
Ao rejeitar o agrado meu.

Flores bem vestidas,
Metidas em cores diversas
Jogam entre si orvalho perfumado.
Psiu! Vem brincar, vem!

Botões eretos,
Abra pra mim suas pétalas cor rosada.
Esta noite velaremos o nosso sono
E amanhã a manhã será de sol.

Cotidiano

Eu passo,
Tu passas.

Tu vens,
Eu vou.

Eu venho,
Tu vais.

Indiferentes
Trocamos as nossas fragrâncias...

Cidadão de Aluguel

Despoje da minha nudez
Todo prazer que procura.
Use-me,
Não me poupe;
Extravase os seus desejos.

Mate a sua fome,
Sacie esta cede.
Caso queira algo mais,
Abuse;
Destile a última gota.

Sou um agente de produção,
Sou mercadoria de uma breve transação.
Ouse,
Encontre em meus meios
A justificativa para os seus fins.

Travessia

Essa dor que passou,
Passagem via coração.

Na partida,
Acenou com tanta intimidade,
A insinuar-se, que a sua ausência
Deixaria-me com saudade.

Essa dor que passou,
Fez moradia temporária em mim.

Quem me dera fosse dor fingida,
Pois, aqui dentro essa dor doeu dolorida
Ao fazer travessia em meu peito.

Cena de Bar

Você chegou,
Dizendo querer ficar.
Bebericou em meu copo,
Exalou o seu perfume,
Acariciou a minha sexualidade
E desnudou segundas intenções.
Tomou mais um gole,
Um discreto piscar de olho
E...

- Garçom, mais um chope, por favor!

Encontro

Todo sorrateiro
E meio ligeiro.
Todo colorido
E meio bandido.
Todo inocente
E meio indecente.
Envolveu-me por inteiro
Em todas as proporções,
Deixando-me no mundo da lua,
O corpo exposto,
A alma nua.
Arrancou-me cadenciados gemidos
Vociferendo ousadas carícias aos meus ouvidos.
Libertou-me às amarras das ilusões,
Infligiu leis no tempo
Invalidadando caducas paixões.
Amamos.

Gestação

Guio-me em suas direções,
Esquivam-se, acenam e fogem.
Sentido em vão,
Não acolhem os meus motivos;
Enganado me desativo.
Querendo eu quero me viver,
Poder certas leis,
Criar o meu próprio útero,
Selecionar os meus gens
E fazer a minha vez.
Primíparo, eu quero nascer de mim,
Sem data,
Sem cor,
Sem sobrenome,
Sem pátria,
Sem bisturi.
Eu quero escancarar as minhas veias
E sentir o gozo do circular do oxigênio,
Provar o sabor do que foi me negado
E encontrar assim, a rezão de ser.