quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Transfusão Social

Mulher no homem,
Empregado no patrão,
Ladrão no policial,
Preto no branco,
Prostituta na madama,
Ignorante no intelectual,
Homossexual no machão,
Protestante no católico,
Raquítico no alterofilista,
Paciente no médico,
Povo no governo,
Sangue no sangue.
Sangue do mesmo sangue.
Do meu sangue,
Do teu sangue,
Do Seu sangue.

- Eu não entendo o porquê de tanto preconceito!
Se o final de todos é único no único...
Pó.

Congênita

À noite
É de lua cheia.
Criatura onírica,
Cidadão do agora,
Apóstata do mundo;
Mundo brinquedo,
Mundo cristal.
Somos partículas
De perversidade congênita,
E de ti não temos piedade.
És lúcido,
Quando indiferente aos padrões
Que concebemos normais.
Nos taxamos de equilibrados,
E tantas vezes nos flagamos neuróticos
Vagando pela razão deste mundo insano.
Malucos, pervertidos, esquisofrênicos...
Todos andando por aí vestindo as nossas camisas-de-força,
Exilando em suas vidas as desculpas dos doentes
Que não admitimos ser.

O Prometido

Ensinaram-me
Que Você morava no céu.
Idiota!
Eu cansei de ficar com a cara pra cima.
Procurei até na boca da onça.
Induziram-me
A buscá-Lo em templos Protestantes,
Esperei, esperei...
Neles eu só encontrei a Sua cruz servindo de cabide
Para cetros, cartolas e casacos de vison.

-Você anda sumido hém!

Escola de Babel

Em costas caladas
São os deveres entalhados
E os direitos riscados a giz.
Em rostos cansados
Desenham o desânimo,
Nos ombros capengas
Pesa o tradicional quadro negro sem verniz.
A todos os instantes
Ouvimos o silêncio gritante
Que faz da Educação e Cultura
Manipuladoras mordaças a emudecer o país.
Eles, os pedagogos do legislativo,
Ao repartir o bolo, tiram para si as fatias confeitadas
E a para nós ínfimos pedaços sem glacê.
Copiam em nossas vidas
A implacável ignorância matriz.

Nossas Cores

O cotidiano de Escândalos são outdoors a todos os olhares;
Um michelangelo retratando uma sociedade em caos.
A parcela maior, inssistenta na esperança de um país melhor,
Obstiná-se a uma condição-sobrevivência,
A qual, os opulentos pisam nas cabeças dos menos favorecidos
Sem o menor senso de coleguismo de raça.
Os que sobrevivem a esses massacres, quando se fazem noturnos,
Adormecem sobre as notícias do Jornal do Brasil, A Tarde, O Globo, Folha de São Paulo...
Contribuições tênues para justificar as constantes frustrações
E no dia seguinte elevar o Ibope com repetidas manchetes.
Uma minoria, a outra extremidade social,
Compra cães inteligentes e homens adestrados,
Modernos dispositivos de segurança,
Muram e gradeiam suas mansões enjaulando os indefesos do lado de fora.
Os vilões das mudanças não estão no Planalto,
Mas sim, em nossa "discreta indiferença" diante de uma realidade
Pintada com cores Verde, Amarela, Azul e Branca,
Realçando "ORDEM E PROGRESSO".

Ideologia

Ritmo acelerado,
Início do fim,
Término do que não começou.
Dedo no botão,
Botão no dedo.
Criador e o avanço tecnológico,
A mecânica e o orgânico.
Indicador no vermelho,
Vermelho sob a suposta pressão do indicador...
Cenas pirotécnicas,
Para nos impressionar.
Fogo riscando o céu,
Querem nos intimidar.
Provocam hemorragias,
Imbecis!
Mutilam crianças...
Otários!
Ainda tiram sarro da nossa cara,
Dando de agrado
Próteses para os membros mutilados,
A exibir tecnologia de ponta do primeiro mundo.

Efeito Bumerangue

Grito na noite,
Eu sozinho em escuridão.
Grito de longe,
Grito de perto;
Não escutam.
Fingem-se
Distraídos,
Indiferentes,
Preguiçosos,
Surdos.
Não sei!
Recolho o meu grito retornado,
Cabisbaixo, decepcionado, desencontrado, silêncioso...

- Como podemos erguer a nossa voz
confiantes na justiça em nosso país,
se ninguém nos ouve?!

Estado de Sítio

Somos animais e nos inventam
Racionais,
Civilização,
Sociais,
Humanidade.

Não podemos dizer isso,
Nem devemos ouvir aquilo.
Com leis e astúcias
Manejam o povo em cabresto.

Temos que manter as nossas vontades
Retidas em conta-gotas.

Temos que andar sempre na linha
dos trens da alegria que nos atropelam,
Dos remendos rasgados que nos costuram,
Dos anzóis enferrujados que nos iscam
E dos documentos com traças que nos coagem a assinar.

Somos meros animais, objetos, humanos,
Cíclicos, nascendo-parindo-morrendo,
Fiéis semeadores da espécie.

Vidas Pontuadas

Parar
Ou Continuar

Eu não sei

Se esses planos
Friamente programados
Estão lapidando os nossos direitos
Ou
Simplesmente embrutecendo
A nossa realidade

Se pararmos
Adotaremos reticências

Se continuarmos
Encontraremos interrogações

Na incerteza
Ficamos entre aspas
Surpreendidos e bestificados
Com as exclamações